A contagem do Censo 2022, realizado pelo IBGE, revela que existem quase 24 mil pessoas no Brasil com mais de 100 anos de idade. Para o senhor Ernesto Engel, morador do interior de Iraceminha, faltam apenas 3 anos para ele entrar no seleto time dos centenários. Ernesto nasceu em 30 de maio de 1926. Para conhecer um pouco da história dele, vamos transcrever o histórico de vida que foi lido na Câmara de Vereadores de Cunha Porã, em 14 de julho de 2021. Naquela data, Ernesto foi solenemente homenageado pela relevância de seus trabalhos prestados por Cunha Porã enquanto Vereador da 1ª Legislatura Municipal Cunhaporense (1959-1962).
Ernesto Engel nasceu na linha Floresta, município de Selbach, RS, em 30 de maio de 1926, filho de Pedro Bernardo Engel e Olinda Schneider Engel. Ele é o segundo filho mais velho de 14 irmãos. Ernesto viveu sua infância e os primeiros anos de estudo com seus pais em Selbach, onde tinham uma casa de comércio. Aos 12 anos, Ernesto deixou sua família para estudar no Seminário Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Corupá, SC, com o desejo de se tornar padre. Lá, ele fez os estudos secundários, permanecendo até 1946. Nos anos seguintes, em 1947 e 1948, cursou Filosofia na cidade de Brusque, SC.
Após concluir o curso, Ernesto morou por um curto período em Castro, Paraná, onde aprofundou seus estudos e conhecimentos sobre a vida religiosa. Ele lembra que a maior parte do trajeto da casa dos pais até Corupá e Brusque era feito de trem e que eram tempos difíceis. O mundo vivia a Segunda Guerra Mundial e, por causa disso, ele ficou 5 anos sem visitar a família. Em 1948, a família deixou o Rio Grande do Sul e foi morar em Joaçaba, SC. Em 1949, Ernesto ingressou no curso de Teologia em Taubaté, SP, mas permaneceu lá por pouco tempo, menos de 1 ano, devido a problemas de saúde pulmonar e de pele. Ele retornou para a casa dos pais em Joaçaba.
O clima de Santa Catarina fez bem a Ernesto, o que o fez desistir de seguir a vida religiosa. Em Joaçaba, graças à sua formação, ele logo começou a trabalhar ocupando cargos de confiança em grandes empresas da cidade. Por volta de 1952, a família de Pedro Bernardo Engel decidiu se mudar para Iraceminha, e Ernesto deixou o emprego e acompanhou os pais. Inicialmente, a mudança ficou alguns dias em Maravilha até que fosse construída uma moradia em Iraceminha, no meio da mata virgem. Ernesto relata que seus pais adquiriram algumas colônias de terra do Agente Colonizador Ricardo Vivian e da Companhia Territorial Sul Brasil e iniciaram a moradia naquela localidade. Na época, Maravilha e Iraceminha tinham menos de 20 moradores cada. Segundo registros da Prefeitura Municipal de Iraceminha, Pedro Bernardo e Olinda Engel são a família pioneira da Linha Bonita no ano de 1952.
Ernesto lembra de um fato pitoresco que prova que na época havia onças bravas na região. Quando chegaram a Maravilha, um fotógrafo estava vendendo fotos de uma onça que havia sido capturada alguns dias antes no interior de Cunha Porã. Mais tarde, esse fotógrafo chamado Raimundo Koch tornou-se cunhado de Ernesto. Em 1953, Cunha Porã ainda pertencia a Palmitos e estava crescendo rapidamente, surgindo novas comunidades e escolas. Entre elas, a comunidade de Santo Antônio. Na época, era difícil encontrar professores. Então, um grupo de moradores, incluindo Raimundo Koch - o fotógrafo da onça, foi até Iraceminha convidar Ernesto para ser o primeiro professor da escola. Como salário, ele recebia meio salário mínimo da época, uma casa para morar e uma pequena área de terra cedida pela comunidade para plantar alimentos básicos e criar alguns animais, como galinhas e porcos.
Em Santo Antônio, aos 29 anos, Ernesto casou-se com Leônida Rosalina Koch, filha de um dos fundadores da comunidade, com quem teve 12 filhos, sendo que 2 deles já faleceram. Ele também é avô de 21 netos e bisavô de 5 bisnetos. Ernesto foi professor em Santo Antônio de 1953 a 1963. Em 1964, foi transferido para Iraceminha, onde atuou apenas por alguns meses. O baixo salário o fez abandonar a escola. Então, ele comprou sua área de terra na Linha Bonita e passou a ser agricultor. Em 1997, Ernesto perdeu sua esposa. Em 2000, casou-se pela segunda vez com Otávia Trebut e foi morar na cidade de Maravilha. Em 2016, Otávia faleceu, e Ernesto voltou a morar na antiga morada em Iraceminha, na companhia de sua filha Verônica, filho Paulo, genro Romeu e netos Luan e Ezequiel.
Ernesto Vereador
Ernesto sempre gostou de política e sempre teve opinião própria. Em 1958, quando Cunha Porã teve sua primeira eleição municipal, Ernesto e seu grupo de amigos formaram o Partido de Representação Popular (PRP). Ernesto se candidatou ao cargo de Vereador. Na época, eram eleitos 7 vereadores no total. O município contava com 1177 eleitores. Com 32 anos de idade, Ernesto foi eleito com 59 votos, sendo o segundo mais votado de seu partido. A primeira legislatura era composta por 7 vereadores: Edvino Hepp, presidente durante os 4 anos, Augusto Kempfer, Armindo Becker, Cirillo Gasparin, Arnildo Ramm, Hercules Comparin e Ernesto Engel.
O PRP era um partido de oposição, com 2 vereadores. Os partidos da situação eram UDN, que elegeu 3 vereadores, e o PSD, que elegeu 2 vereadores. Mesmo sendo da oposição, Ernesto foi escolhido para ser secretário-geral da Câmara na 1ª legislatura. Ernesto lembra que naquela época a concorrência pelo voto do eleitor era grande. Só no PRP eram 9 candidatos. Ernesto teve que disputar votos até mesmo com seu próprio irmão, que era candidato pelo mesmo partido. Como não havia carros disponíveis para fazer campanha, Ernesto comprou um burro de raça espanhola apenas para esse propósito. No começo, as reuniões eram realizadas dentro de uma velha escola que foi reformada e também serviu como primeira sede da Prefeitura. Os salários dos vereadores na época eram apenas uma pequena ajuda de custo para alimentação e transporte. Ernesto explica que, por ser secretário durante todo o seu mandato, apresentou poucos projetos, e sua principal defesa era promover a educação, criando novas escolas nas comunidades. Ernesto criou o projeto para construir a primeira escola na Linha Bonita, no distrito de Iraceminha, pertencente ao município de Cunha Porã. Ernesto escreveu as atas das sessões, totalizando 112 atas durante o mandato de 4 anos.
Hoje, o Senhor Ernesto está aí firme e forte com seus 97 anos de idade e muitas histórias boas para contar.
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